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De conto e contistas
Página publicada em: 18/12/2008
Nelson Hoffmann*
Considerações a respeito de três grandes nomes da moderna contística brasileira - Maria Thereza Cavalheiro, Edson Ubaldo e Nilto Maciel - e lições do sempre atual Machado de Assis
 
 
O conto é um dos gêneros literários de mais difícil definição. Há quem o questione, até, como gênero literário. Houve. Hoje é pacífico.
 
A palavra “conto” vem de “contar”, do latim, “computare”. “Computare” significa relatar, narrar e calcular, computar. Daí que o mesmo verbo latino dá origem a palavras como “conta”, “contábil”, “contadoria”, “contagem”, “cômputo”, por um lado; e “conto”, com o sentido de relato, narração, por outro. A palavra “conto”, em si, surge por volta do século XIII e aponta para a narração de um fato. “Eu conto…”.
 
O conto começou oral; passou ao registro escrito. No século XIV, com a publicação do Decameron, de Giovanni Boccaccio, o conto é elevado à categoria de obra de arte. Na primeira metade do século XIX, Edgar Allan Poe, com seus “tales” góticos, traça diretrizes para o conto moderno e inicia a teorização do mesmo. O conto parece definido e começa a ser problematizado em sua definição. 
 
Poe influenciou Machado de Assis, o grande mestre do conto no Brasil. Na esteira deste, perfilham-se milhares. Poucos  atingem o patamar  de “contista”. Afinal, o próprio mestre Machado alertou: o conto é gênero difícil, a despeito de sua aparente facilidade.
 
No Brasil, hoje, são contistas de primeira linha: Maria Thereza Cavalheiro, Edson Ubaldo e Nilto Maciel. Estão-me aqui os livros: Cabeça de Mulher, de Maria Thereza Cavalheiro; O Vôo da Coruja, de Edson Ubaldo; e Babel, de Nilto Maciel. Três livros bem diferentes, como diferentes são as origens dos três autores: paulista, catarinense e cearense. Mas, todos muito brasileiros.
 
Cabeça de Mulher comemora os cinqüenta anos de atividades literárias da autora. O livro contém dezoito contos que, em sua maioria, foram anteriormente premiados em festivais e concursos. O tema caracteriza-se pela visão feminina da alma feminina. Em frases curtas e objetivas, a autora coloca o leitor em contato direto com situações cotidianas e dramáticas. Traumáticas. O final é sempre inesperado. E choca. Como na vida real.
 
Edson Ubaldo é descendente de gaúcho de Vacaria, é catarinense natural de Lages, reside em Campos Novos, SC, e, globe-trotter, passeia pelo mundo. Professor universitário, conferencista de renome internacional, é membro de inúmeras academias brasileiras e européias,  além de titular da cadeira nº 12 da Academia Catarinense de Letras. Sua obra é multifacetada e abrange o articulismo, o ensaio, a poesia, o conto.
 
Na poesia, Edson Ubaldo é destaque; no conto, é magistral. Os quatorze contos que compõem o O Vôo da Coruja são um primor de artesania literária. Conteúdo e forma constituem um só bloco. Gostosíssimo. A gente olha,  lê,  pensa  e   conclui:  esse  conteúdo  só  podia   ser expresso dessa forma; essa forma só podia expressar esse conteúdo. A simbiose é perfeita.
 
A temática de Edson Ubaldo é regionalista e foca os campos da região de Lages, em tempos idos. Idos, mas nem tanto. Muita coisa permanece, bem viva ainda. Em Lages e cercanias, caminhando para o Sul, para Vacaria, donde Ubaldo se origina; ou, para o Oeste, para Campos Novos, onde Ubaldo plantou morada. Avançaram os tempos, mas as geadas continuam branqueando campos, as cigarras continuam rechinando sob o sol, as mestiças continuam sendo defloradas, os bordéis continuam ponto de encontro de velhos coronéis e filhos. Pois, até isso, até os coronéis continuam, sim. E Ubaldo nos traz esse mundo quase mítico e lendário, mas tão atual e presente, em histórias curtas e saborosas, num misto de linguajar culto e campeiro, realizando um conjunto de rara beleza artística.
 
Nilto Maciel dispensa comentários. Autor por demais conhecido, sua obra é extensa e a crítica é unânime em reconhecê-lo como um dos principais nomes das modernas letras brasileiras. Natural de Baturité, Ceará, Maciel está radicado, há anos, em Brasília. Seu primeiro livro que aportou por aqui, pelo Sul, foi A Guerra da Donzela e chamou a atenção. Todos os anos é re-indicado para leitura em sala de aula.
 
Babel  é  o  quinto  livro   de  contos  do  autor  e, conforme o próprio, um   filho  enjeitado. Não  é. Em  muitas  de suas páginas ressuma o que de  melhor Nilto  Maciel  escreveu.  Perpassando   as  três  dezenas  de  histórias  que  compõem   o  livro,  fica-se  com  uma  estranha  impressão de maravilha,  déjà vu   e   presença  real. Há meandros que insinuam mundos kafkianos; há luminosidades que doem como a solama nordestina. Há poesia, há cordel, há povo. Folclore, padrão, elite. Virtude, mornidão, pecado. Crenças, crendices, fé. Homens, mulheres. Mundos.
 
Ler Babel faz a gente lembrar de Jorge Luís Borges. E uma leitura que lembra Borges, só pode ser de livro excepcional. Como este de Nilto Maciel.
 
Três contistas e sua obra de arte: o conto. O conto e sua arte. E sua definição. O que é mesmo um conto?
 
Mário de Andrade chegou a alertar que o próprio Machado de Assis só encontrou a forma do conto: a forma do conto indefinível, insondável, irredutível a receitas.

                     Roque Gonzales, RS, novembro/1999.

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*NELSON HOFFMANN é professor, escritor e crítico literário do Rio Grande do Sul traduzido para várias línguas; autor, entre outros, de Eu vivo só ternuras (novela) e O homem e o bar (romance)

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