Editora LetraSelvagem

Editora e Livraria Letra Selvagem

Literaura Brasileira

Os melhores escritores do Brasil

Ricardo Guilherme Dicke

Romance, Poesia, Ficção

Deus de Caim

Olga Savary

Nicodemos Sena

Edivaldo de Jesus Teixeira

Marcelo Ariel

Tratado dos Anjos Afogados

LetraSelvagem Letra Selvagem

Santana Pereira

Sant´Ana Pereira

Romance

Nicodemos Sena

Invenção de Onira

A Mulher, o Homem e o Cão

A Noite é dos Pássaros

Anima Animalista - Voz de Bichos Brasileiros

A Espera do Nunca mIas (uma saga amazônica)

O Homem Deserto Sob o Sol

Romancista

Literatura Amazonense

Literatura de Qualidade

Associação Cultural Letra Selvagem

youtube
Destaque Cadastre-se e receba por e-mail (Newsletter) as novidades, lançamentos e eventos da LetraSelvagem.

Colunas

Fonte maior
Fonte menor
De crônica e cronistas
Página publicada em: 19/11/2008
Nelson Hoffmann*
"Prosa fiada" ou "arte ingrata"? Afinal, o que é a crônica? É o que Nelson Hoffmann também se pergunta a partir da leitura de Péricles Prade, Carlos Drummond de Andrade, José Mendonça Teles e José Ribamar Garcia
 
 
Sempre que me pedem uma crônica, pergunto-me: o que é crônica?
 
A etimologia da palavra aponta para o grego, tendo no “tempo”, khronos, seu elemento de composição. Daí, passando  pelo latim, chronica, a definição do Aurélio: narração histórica, feita por ordem cronológica. Cronológica, isto é, “segundo a ordem dos tempos”.
 
É com esse sentido e para o exercício dessa missão, que são nomeados os grandes cronistas do reino português, ao fim da Idade Média. E, mesmo depois, quando o Brasil já está descoberto. São esses cronistas que documentam e relatam os feitos de Portugal pelo mundo a fora. É isso, também, o que faz Pero Vaz de Caminha, ao anunciar, em carta ao rei D. Manuel, o sucesso da empreitada de Pedro Álvares Cabral e registrar as primeiras impressões colhidas em terras recém descobertas.
 
É também nesse sentido que Péricles Prade enquadra no gênero crônica  o seu livro sobre Galileu Galilei: Crônica do Julgamento de Galileu: Poder & Ciência. Com objetividade jornalística, o autor historia os fatos que envolveram o cientista e sua teoria heliocêntrica: antes, durante e depois. Tudo é centralizado no processo do julgamento de Galileu, ponto de convergência e irradiação dos fatos.
 
Péricles Prade, porém, não fica só no relato dos fatos que compõem o processo. Da questão particular do julgamento, o autor parte para a análise global do divisor de águas histórico que foi o “Caso Galileu”. E põe em cheque o eterno choque entre “Poder & Ciência”. De um lado, a liberdade da busca do saber para a superação de limites; do outro, o temor da autoridade entronizada, sentindo a ameaça do conhecimento. Assim, o autor ultrapassa a crônica para ingressar no ensaio.
 
Crônica? O que é?
 
Há quem diga que a crônica, como é praticada no Brasil, é única. Talvez seja. É certo, pelo menos, que tenha definições muito próprias, muito suas, muito brasileiras. O próprio Carlos Drummond de Andrade, em título de livro, chegou a redefinir a crônica: De Notícias e Não-Notícias Faz-se a Crônica. Observe-se: de “não-notícias” também. E Vinícius de Moraes decreta-a  prosa fiada. Mas reconhece: é uma arte ingrata.
 
Vê-se: há crônicas e crônicas. E cronistas e cronistas.
 
Conheci dois novos cronistas — novos, para mim: Mendonça Teles e Ribamar Garcia, ambos José. O primeiro é de Goiás; o segundo vem do Piauí. Do primeiro, li Crônicas da Campininha; do segundo, Além das Paredes.
 
O livro de José Mendonça Teles é coisa gostosa de se  ler. Tem sabor, tem cheiro. Tem sentimento, tem reflexão. Tem memória, tem infância, tem amizade, tem namoradas, tem futebol, tem sonhos, tem vida. É leve, profundo. Risonho, triste. Prende, enrodilha, não larga. Até o fim. E, lido, a gente continua degustando.
 
José Ribamar Garcia nos leva em viagem pelo Brasil. As crônicas são curtas, francas, diretas. Algumas sequer chegam à meia página. E são pequenas obras-primas. Todas, pequenas ou maiores, demonstram o invulgar talento desse piauiense radicado no Rio de Janeiro. Em todas, o ambiente é pincelado com rapidez; por vezes, só referência. O diálogo é constante, particulariza personagens, desenvolve a história e colore o cenário. E o homem que emerge das crônicas é um brasileiro que poucos conhecem. O livro é primoroso.
 
Se há quem diga que a crônica praticada no Brasil é única, há também quem afirme ser a crônica um gênero “menor”. Por que, então, permanece, cresce? Por que imortaliza autores, é lida e relida com afinco, afã? Por quê?
 
A crônica é humana. É cotidiana, lugar-comum, chã. É gente, é fato, é tempo. É vida. É vida, é crônica. É crônica, é humano. 
 
Roque Gonzales, RS, setembro/1999.
 
_________________
*NELSON HOFFMANN é professor, escritor e crítico literário do Rio Grande do Sul traduzido para várias línguas; autor, entre outros, de Eu vivo só ternuras (novela) e O homem e o bar (romance)


Faça seu comentário, dê sua opnião!

Imprimir
Voltar
Página Inicial

Autores Selvagens

Autor

» João Batista de Andrade

Nasceu na cidade mineira de Ituiutaba, em 1939, e vivenciou complexos momentos da recente história do Brasil, como o período da Ditadura Militar (1964-1985). Premiado e aclamado como cineasta, sempre alimentou entranhada relação com a literatura, que se manifesta em sua filmografia, quer na urdidura dos roteiros, quer na transposição para as telas de obras literárias, como os romances "Doramundo" (Geraldo Ferraz), "Veias e Vinhos" (Miguel Jorge) e "O Tronco" (Bernardo Élis). Enquanto colhe louros como cineasta, vai publicando os seus livros, sete até este momento (o último intitula-se "Confinados: memórias de um tempo sem saídas").

Colunas e textos Selvagens

© 2008 - 2021 - Editora e Livraria Letra Selvagem - Todos os Direitos Reservados.