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De poesia e poetas
Página publicada em: 11/02/2009
Nelson Hoffmann*
Língua materna da humanidade? Ou mero jogo de palavras? Afinal, o que é a poesia? Ao escrever sobre três poetas - Elizabeth Oliveira, Nilza Menezes e Adélia Maria Woellner - o cronista exemplifica essas e outras questões

 
 
A poesia nasceu com a humanidade. Como diz Carpeaux, citando Hamann: Poesia é a língua materna do gênero humano. E acrescenta, por conta: Pela língua poética, o homem cria uma imagem do mundo divino. Parodiando Aristóteles, poder-se-ia dizer: O homem é um animal poético.
 
Daí a dizer-se que tudo que alguém faz, ou escreve, seja poesia, vai um bocado de distância. Rimar algumas palavras, amontoar outras tantas em formação “a” ou “b” não quer dizer que ali haja poesia. A realização estética é bem mais complexa do que faz supor a natureza poética do ser humano. A poesia, como obra de arte, está ao alcance de muito poucos.
 
O que é poesia?
 
Os conceitos e definições são muitos e múltiplos. E geram confusões, sem que se chegue a um denominador comum. Por vezes, não se distingue entre poesia e poema; noutras, mistura-se poesia, como substância imaterial, com poesia, o texto materialmente concretizado. É raro haver concordância.
 
Poesia é liberdade. Talvez aí, o mistério da definição. Como obra literária, porém, só tem uma ferramenta: a palavra. Isto, na lição de Mallarmé: Não é com idéias que se fazem versos: é com palavras.
 
Curiosamente, a poeta Elizabeth Oliveira usa a própria ferramenta de trabalho e dela faz poesia. O seu O Ofício da Palavra é um livro de poesia sobre a poesia. É a palavra sobre a palavra. E é na segunda parte do livro, em “A Arte da Poesia”, que mais se destaca o labor metalingüístico da autora. Os títulos desta parte, por si só, já falam da extrema consciência da artista: “A Palavra”, “Apologia à Palavra”, “Poética”, “O Ofício de Criar”, “Oficina da Poesia”, “Fábula do Resgate”, “A Criação”, “Prescrição”, “Matéria Prima” e “O Ofício da Palavra”. A titulação e a seqüência são por demais expressivos.
 
A questão da metalinguagem poética, nas letras brasileiras, não é nova.  A novidade está na realização alentada, organizada, procurada. Consciente. Elizabeth usa a palavra para buscar o que está além da palavra.
 
A palavra
Não é meta, é ponte.
Ouço o meu interior à procura da não-palavra.
Encontrá-la? Isso é algo divino.
 
Carioca de nascimento, Elizabeth Oliveira transportou-se ao Maranhão, onde reside. Como transportada também se fez, embora pra outro Estado, Rondônia, a poeta Nilza Menezes, paranaense de nascimento.
 
Nilza Menezes lançou, há pouco, o  livro  Sina: Troco ou Vendo em Bom Estado. Pra quem achar o título um tanto estranho, a autora vai logo anunciando:
 
Troco a antiga sina
por uma de menina.
 
Nilza é poeta muito original. Sua poesia encanta e faz sorrir. A gente sorri, e tem vontade de chorar. Ao fim, permanece-se com os lábios distendidos em sorriso, uma lágrima escondida num canto de olho, o olhar perdido na distância:
 
Ela viu pela janela a vida.
Já mudaram nossas sinas,
papéis,
novas leis, novos costumes
desviando nossos olhos
para as coisas da moda.
 
Sobreviver
tem custado muito.
 
Preciso partir
para querer voltar. 
 
Na abertura do livro, o poeta e letrista Carlos Moreira afirma: É absurdo falar de poesia. Só a poesia pode e deve falar-se porque só um canto se explica. Verdade.  No que tange à poesia de Nilza Menezes, então, é mesmo absurdo falar; é preciso ler.
 
É preciso ler, também, a poesia de outra paranaense, que permanece no Paraná, em Piraquara: Adélia Maria Woellner. Poeta premiadíssima, é titular de cadeiras em diversas academias, nacionais e estrangeiras, está incluída em inúmeras obras literárias e teve sua obra analisada e divulgada em cadeia nacional de emissoras de rádio, no “Projeto Minerva” do dia 10.10.74.  
 
Infinito em Mim, de Adélia Maria Woellner, é um livro de autêntica poesia. O tom é austero, o fluir é sóbrio, a busca é de permanência. O finito à procura do infinito. A angústia da transitoriedade, a prisão da matéria e do tempo:
 
Este corpo,
que me contém
 
Em tudo,
na semente,
a expressão do todo.
 
E a resposta está dentro de cada um:
 
quando me permito
fundir-me com o universo
e perceber
o infinito em mim… 
 
Observe-se a  similitude na diversidade. Elizabeth tematiza a palavra e conclui que isso é algo divino. Nilza perpassa o fluir da vida e conclui que é preciso partir. Partir... para voltar: a angústia do eterno. Do eterno, conforme Adélia Maria, do infinito em mim, se eu partir e fundir-me com o universo. 
 
                                            Roque Gonzales, RS, dezembro/1999.
 
________________
*NELSON HOFFMAN é professor, escritor e crítico literário do Rio Grande do Sul traduzido para várias línguas; autor, entre outros, de Eu vivo só ternuras (novela) e A bofetada (romance)

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Autores Selvagens

Autor

» João Batista de Andrade

Nasceu na cidade mineira de Ituiutaba, em 1939, e vivenciou complexos momentos da recente história do Brasil, como o período da Ditadura Militar (1964-1985). Premiado e aclamado como cineasta, sempre alimentou entranhada relação com a literatura, que se manifesta em sua filmografia, quer na urdidura dos roteiros, quer na transposição para as telas de obras literárias, como os romances "Doramundo" (Geraldo Ferraz), "Veias e Vinhos" (Miguel Jorge) e "O Tronco" (Bernardo Élis). Enquanto colhe louros como cineasta, vai publicando os seus livros, sete até este momento (o último intitula-se "Confinados: memórias de um tempo sem saídas").

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