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Críticas

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Mundo fantástico
Página publicada em: 10/07/2010
Enéas Athanázio
O misterioso "mundo submerso" do novo romance de Nicodemos Sena, "A Mulher, o Homem e o Cão", segundo a ótica do crítico Enéas Athanázio (Texto publicado originalmente no jornal “Página 3” – Balneário Camboriú, SC, 05/12/2009)
Sempre que retomo a leitura deste romance de Nicodemos Sena fico siderado com a velocidade vertiginosa com que se sucedem as cenas e os fatos, muitos deles imprevistos e que contrariam qualquer expectativa lógica. Recordo-me de pronto do escritor colombiano Vargas Vila, romancista que desfrutou de grande popularidade no Brasil, e que afirmava entrar numa espécie de transe para compor seus textos, em especial O caminho do triunfo e A conquista de Bizâncio, livros que ele próprio considerava os mais densos e importantes de sua vasta obra. Acredito que algo semelhante deve ocorrer com Nicodemos Sena quando escreve suas ficções, fato que me parece ainda mais visível em A mulher, o homem e o cão (Editora LetraSelvagem – São Paulo, 2009), seu terceiro romance, e ao qual me refiro neste comentário.
 
Creio que não é outra coisa que afirma o próprio autor, quando escreve: “Para ficar tão sozinho e não enlouquecer, tive de aprender a pensar em silêncio, falar em voz baixa, contar histórias para mim mesmo e para os outros seres visíveis e invisíveis que cruzaram o meu caminho. E o livro, sobre criaturas que se recolheram para dentro de si mesmas e daí jamais saíram, foi enfim escrito” (p. 151).
 
Esse novo romance do escritor paraense, radicado em São Paulo, se insere na chamada literatura nortista ou amazônica, ainda que isso aconteça em termos. Ambientado na selva, de características amazônicas, embora não mencione qualquer lugar específico, é um texto surreal, de realismo mágico ou fantástico, que descreve um mundo em que tudo é possível e realidade e ficção se laçam e entrelaçam no mesmo plano dos acontecimentos. Nele se cruzam a cada instante seres reais e imaginários, contracenando com naturalidade e sem provocar espanto. Nessa movimentação frenética, usa o autor seus conhecimentos sobre aquela região com seus mitos, lendas, crenças, animais, pássaros, répteis, peixes, rios, árvores, história etc. Em certa passagem surge até um boto, com seu furo na cabeça, ainda que não seja mencionado seu nome, sempre empenhado em suas seduções. E no emaranhado geral entram figuras históricas e passagens bíblicas em profusão. É, enfim, uma leitura que fascina o leitor e exige dele boa dose de imaginação.
 
Sendo amazônico, é regional, embora seguindo por caminhos próprios, sem pisar nos rastros de outros autores da região, como Inglês de Souza ou Dalcídio Jurandir, por exemplo. A maneira da exposição lembra Guimarães Rosa no Grande Sertão: Veredas, em que é Riobaldo quem relata os fatos a um interlocutor invisível e silencioso. Aqui é “o homem” que transmite os complicados enredos, um narrador que não é identificado, não tem nome e não se descreve. Também como em Rosa, a narrativa é inteiriça, compacta, sem divisão em capítulos ou partes. Além de não haver local determinado – exceto a cabana em plena selva e nas proximidades de um rio não identificado – não há cronologia, tempo, hora, quando muito dia e noite, cedo ou tarde. Certas criaturas não recebem nomes, são apenas traçadas de maneira sumária. “Era uma criatura vermelha, de pele escamosa, que tinha sete cabeças e dez chifres, e sobre as suas cabeças sete diademas” (p. 19). Surge, então, o misterioso mundo submerso de onde dificilmente se retorna. Nele, se não “discutires s seus ritos, compreenderás todas as coisas que ao homem não foi dado conhecer” (p. 22). E surge um mancebo sedutor e perfumado, o menino que é e não é passarinho, o mesmo que morre e não morre, o pássaro que colecionava esqueletos de serpentes, a cabeça com asas, a mulher que virou porca. Enfim, “o ordinário e o extraordinário, o natural e o sobrenatural, a vida e a morte se misturavam” (p. 111). Mas, apesar de tantas tropelias, é melhor esquecer, “pois saber enlouquece” e “loucura é continuar neste pesadelo” (p. 96).
 
Enfim, o pesadelo passa, a tensão se dissipa e o final é feliz. O homem, a mulher, o menino e o cão, juntinhos, sentam à beira do rio e ficam “por muito tempo a mirar as estrelas que, em seu infinito silêncio, olhavam pra nós lá do fundo” (p. 138). Ainda bem!
 
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*Enéas Athanázio é escritor catarinense, autor, entre outros, de O cavalo inveja e a mula manca (contos)

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Autores Selvagens

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» Hernâni Donato

Hernâni Donato já foi chamado de "o homem dos sete instrumentos". Isto porque, aos 89 anos de idade, membro da Academia Paulista de Letras, é autor de mais de 70 livros, nos mais variados campos da atividade humana, indo da literatura infanto-juvenil à biografia, da historiografia aos costumes, da pesquisa à divulgação científica. Entre as numerosas traduções que realizou, destaca-se a da "Divina Comédia", de Dante Alighieri, em prosa e para divulgação entre o povo. Mas foi no romance que se deu a perfeita combinação do observador minucioso, na linha do cientista social, com o escritor de estilo claro e elegante. É o autor de "Selva Trágica", "Chão Bruto", "Rio do Tempo", "O Caçador de Esmeraldas" e "Filhos do Destino", sucessos editoriais nas décadas de 1950 e 60. Alguns críticos, como Abdias Lima (“Correio do Ceará”, 2/2/1977, Fortaleza, CE), aproximaram Hernâni Donato de Erskine Caldwell e John Steinbeck, a geração norte-americana da revolta, o Caldwell de "Chão Trágico" e o Steinbeck de "As Vinhas da Ira".

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