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Críticas

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Paixão por Dostoievski
Página publicada em: 16/08/2011
Ruth Guimarães
Aos 25 anos, dá voz àquela gente que não tem de seu senão os sentimentos. (Resenha publicada no jornal "O Vale", de São José dos Campos-SP, 10/08/2011)
Confesso uma paixão de controle pouco cerebral por Fiodor Dostoievski e, por extensão, por quem dele se enamora e por quem dele se deixar enamorar, influenciar, penetrar.
 
Paixão por não saber como classificar o que não é divino, nem infernal, nem terrestre. A pobre linguagem humana, como poderá chegar a dar uma pálida ideia do que acontece no fundo das almas e como se comunicam uns e outros e como se entendem os sentimentos de uns e outros. Como dar uma pálida impressão das profundezas da alma.
 
Tem que ser não só com a escolha das palavras significativas, dentro de um contexto, mas com a sua música, o seu ritmo, o seu pulsar, o seu juntar-se à nossa dor e à nossa alegria.
 
No seu primeiro romance, Gente Pobre, esse russo inefável, já aos 25 anos de idade, dá voz àquela gente que não tem de seu senão os sentimentos. Gente que conhecemos, ele na Sibéria e nós aqui. Homens e mulheres que passam por nós nas ruas, no metrô, abandonados pelos poderes e pela justiça dos homens. Gente de quem Luís Avelima conhece o pulsar. E, a bordo dessa vivência por vários mundos – incluída a Sibéria de Dostoievski, onde esteve durante seus oito anos de residência na Rússia – nos ajuda a trazer para o português o que parecia que só a língua cirílica poderia traduzir.
 
A tradução que Luís Avelima nos traz de Dostoievski é tão singular quanto doce, e tão suave quanto trágica. As epístolas trocadas entre Makar e Varvara exibem imagens como esta: “Envio-lhe algumas uvas, meu coraçãozinho; dizem que são muito boas para os convalescentes, e o médico as recomenda para matar a sede, apenas para matar a sede.”
 
Esse moço, Avelima, que conheço de muito boas notícias, parece ter na alma a identidade com o conteúdo da primorosa tradução que fez: um homem honesto em relação aos sentimentos próprios e dos outros; homem tocado pela fraternidade; homem movido por um sentimento de humanidade. Como Dostoievski.
 
E é por essa identidade que ele nos obriga a amar, com toda a alma. Pois traduzir assim é divinatório, é criar e exercer o contato de duas vidas. Sinto-me enriquecida.
 
Nota. Gente Pobre foi editado pela Editora LetraSelvagem, de Taubaté, criada e mantida pelo escritor e pesquisador Nicodemos Sena, que não busca o lucro, mas o resgate de obras que as grandes editoras desdenham. Sena foi quem garimpou o original e convidou Luís Avelima para realizar a tradução.
 
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* Ruth Guimarães é escritora e tradutora, autora, entre outros, de Água funda (romance); membro da Academia Paulista de Letras.

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Autores Selvagens

Autor

» Silas Corrêa Leite

Começou a escrever aos 16 anos, no jornal "O Guarani", de Itararé, no Estado de São Paulo. Autor do hino ao Itarareense e relator da ONG Transparência nas Políticas Públicas. Crê no humanismo e critica o "Brasil S/A". Vê a arte como instrumento de libertação (Manuel Bandeira); seus textos apresentam-se como um testemunho das amarguras de seu tempo de lucros globalizados e injustos e riquezas impunes de um neoliberalismo insano de privatarias e o inumano neoescravismo da terceirização.

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