Editora LetraSelvagem

Editora e Livraria Letra Selvagem

Literaura Brasileira

Os melhores escritores do Brasil

Ricardo Guilherme Dicke

Romance, Poesia, Ficção

Deus de Caim

Olga Savary

Nicodemos Sena

Edivaldo de Jesus Teixeira

Marcelo Ariel

Tratado dos Anjos Afogados

LetraSelvagem Letra Selvagem

Santana Pereira

Sant´Ana Pereira

Romance

Nicodemos Sena

Invenção de Onira

A Mulher, o Homem e o Cão

A Noite é dos Pássaros

Anima Animalista - Voz de Bichos Brasileiros

A Espera do Nunca mIas (uma saga amazônica)

O Homem Deserto Sob o Sol

Romancista

Literatura Amazonense

Literatura de Qualidade

Associação Cultural Letra Selvagem

youtube
Destaque Cadastre-se e receba por e-mail (Newsletter) as novidades, lançamentos e eventos da LetraSelvagem.

Obras Selvagens

Fonte maior
Fonte menor
O homem deserto sob o sol
Página publicada em: 01/03/2008
Edivaldo de Jesus Teixeira / Preço: R$20,00 (104 pág.)
R$ 20,00
Comprar agora
O LUTUOSO TECIDO DA SOLIDÃO - Prefácio de Olga Savary*
Imagem

Afirmam alguns que a poesia não serve para nada. Poderia ser verdade, mas não é. Poesia não serve para nada... a não ser para a essência do ser, para o essencial da vida. O poeta tem o olhar que reflete, não o que mede. O olhar que mede é preconceituoso – o poeta é aquele que a rigor não tem preconceito algum. Outra coisa: o artista não tem que ter pressa, não tem que ter carência e ânsia de ser reconhecido. Literatura? Arte e cultura? Só se não der para escapar. Se for só para pensar em conquistar fama, sucesso e dinheiro (ou, como se diz brincando, vinho, mulheres e música), não vale o sacrifício. Porque é esforço, sacrifício e dedicação o tempo todo. Parece uma vida só de beleza e felicidade. Mas não é. E, ao mesmo tempo, é.

Tudo o que foi dito acima semelha compor o retrato do poeta Edivaldo de Jesus Teixeira. O silêncio, a discrição, a modéstia são qualidades encontradas no texto e na maneira de ser deste poeta e juiz paranaense, radicado em Mogi das Cruzes, São Paulo. Seu fazer poético é de uma precisão e beleza bem caras à própria natureza da poesia. Quem conhece de fato poesia, sabe que ela ama a concisão, a economia de linguagem, a escritura enxuta, sem adiposidades. Reservada e circunspecta, sua ars poetica é ímpar, singular e plural a um só tempo. Tom Jobim disse certa vez que as pessoas pensam que música é ruído organizado; música é silêncio. Ruído é excitante, impacta. Ingrediente básico da poesia, silêncio induz ao sussurro.

O silêncio para fora nos propõe contemplação: da natureza e da natureza do homem. Octavio Paz, em seu livro de ensaio O Arco e a Lira, reconhece que a natureza é indiferente e desconhece o Homem. Talvez por causa desse fato o ser humano investe tão agressivamente contra ela. Tendo como pano de fundo a esperança, O homem deserto sob o sol desce o lutuoso tecido da solidão, compondo salmos, elegias, sonetos, cantos, canções, fugas, ressonâncias, vozes a denunciar que na sinfonia da vida o maestro acaba por se matar antes de alcançar a harmonia. Mas o poeta, este aqui, homenageia seus antecessores na escrita, os que vieram antes: Borges, Lorca, Dante, Drummond, Murilo Mendes, Gullar, Baudelaire, Mallarmé, Eliot, Pound, Bashô, entre outros pares. Vale o diálogo, apesar de certo pessimismo.

Empregando no início do livro uma epígrafe da mestra Emily Dickinson, precursora da poesia moderna (onde ela diz que a palavra não morre mal é pronunciada, mas sim que é aí que ela nasce), Edivaldo de Jesus Teixeira é um cultuador da palavra escrita, matéria-prima do poeta. Os olhos que o poeta gira sobre as coisas situam-no no mundo. Dessa experiência muito dele, e só dele, visão única (como únicos são a impressão digital humana e o desenho da cauda da baleia, sem igual em qualquer outro) é que nasce a sua palavra, e dessa palavra ele se alimenta em sua solidão ativa.

Desse olhar, dessa visão, entre as pedras e as estrelas, o poeta exorcizará a sombra, na direção da alba onde jorra a luz, o puro ouro da poesia que exorciza a morte e inaugura a vida: “A sombra assim posta/ em que matéria pena?/ São quantos os quasars/ de uma sombra apenas?”. Para não perder o azul, o poeta refugia-se na dor, ainda que reconheça na dor o refúgio corporal da sanidade. Toda ordem conspira contra a vida em complexa genealogia. Por quê? Por sepultar a ilusão das coisas. Assim, toda ordem conspira contra a multiplicação dos pães e a divisão das riquezas. E o suave caos não justificará jamais nossa comum finitude. Alheio aos ruídos da tarde, sua paciência percorre conceitos vagos de direito, na provisoriedade das soluções humanas.

Alimentado de silêncio e de fulgor intenso, onde há uma luz onipresente e mínima treva – há treva e luz no que faz o criador – a poesia de Edivaldo de Jesus Teixeira arde em todo o livro O homem deserto sob o sol. Seu texto tem sobejamente o que Machado de Assis dizia da literatura: que esta fica, eleva, honra e consola. Seria a vida, como diz o Autor, um círculo onde os rostos envelhecem lentamente, transformando sempre esta obra-prima (a vida) apenas em rugas, musgos, pântanos, sementes? Seria apenas essa vã procura de transcendência para além da vida? Filosofando sobre o escândalo que a vida é, a poesia social, transcendente e pungente de Edivaldo de Jesus Teixeira finge acreditar, ainda, no paraíso, avessa à conclusão, movendo-se poderosa entre solidão e solidariedade.

_____________
*OLGA SAVARY é escritora (poeta, ficcionista, crítica, ensaísta), tradutora e jornalista. Integra mais de 900 livros pessoais e coletivos, entre os quais Repertório Selvagem – Obra Reunida, pela Biblioteca Nacional, vários Dicionários de Escritores, Guias e Enciclopédias Literários. Convidada, é a única brasileira a constar da antologia Poesia da América Latina (entre apenas 18 poetas e dois Prêmios Nobel: Neruda e Octavio Paz) editada em 1994 na Holanda, das antologias Os Cem Melhores Contos do Século e Os Cem Melhores Poemas do Século, organizadas pelo Professor Ítalo Moriconi para a Ed. Objetiva, 2000.

____

Este livro pode ser adquirido aqui. CLIQUE AQUI.


Faça seu comentário, dê sua opnião!

Imprimir
Voltar
Página Inicial

Autores Selvagens

Autor

» João Batista de Andrade

Nasceu na cidade mineira de Ituiutaba, em 1939, e vivenciou complexos momentos da recente história do Brasil, como o período da Ditadura Militar (1964-1985). Premiado e aclamado como cineasta, sempre alimentou entranhada relação com a literatura, que se manifesta em sua filmografia, quer na urdidura dos roteiros, quer na transposição para as telas de obras literárias, como os romances "Doramundo" (Geraldo Ferraz), "Veias e Vinhos" (Miguel Jorge) e "O Tronco" (Bernardo Élis). Enquanto colhe louros como cineasta, vai publicando os seus livros, sete até este momento (o último intitula-se "Confinados: memórias de um tempo sem saídas").

Colunas e textos Selvagens

© 2008 - 2021 - Editora e Livraria Letra Selvagem - Todos os Direitos Reservados.