Editora LetraSelvagem

Editora e Livraria Letra Selvagem

Literaura Brasileira

Os melhores escritores do Brasil

Ricardo Guilherme Dicke

Romance, Poesia, Ficção

Deus de Caim

Olga Savary

Nicodemos Sena

Edivaldo de Jesus Teixeira

Marcelo Ariel

Tratado dos Anjos Afogados

LetraSelvagem Letra Selvagem

Santana Pereira

Sant´Ana Pereira

Romance

Nicodemos Sena

Invenção de Onira

A Mulher, o Homem e o Cão

A Noite é dos Pássaros

Anima Animalista - Voz de Bichos Brasileiros

A Espera do Nunca mIas (uma saga amazônica)

O Homem Deserto Sob o Sol

Romancista

Literatura Amazonense

Literatura de Qualidade

Associação Cultural Letra Selvagem

youtube
Destaque Cadastre-se e receba por e-mail (Newsletter) as novidades, lançamentos e eventos da LetraSelvagem.

Obras Selvagens

Fonte maior
Fonte menor
A Espera do Nunca Mais (uma saga amazônica)
Página publicada em: 01/03/2008
Nicodemos Sena / Preço: R$50,00 (874 pág.)
A AMAZÔNIA ENQUANTO ESTÓRIA (Prefácio à 1ª edição)- Por Acyr Castro*
Imagem
Uma sentença de Walter Benjamin sobre os confins da cultura – aquilo não de dizer deles ou sobre eles; “apenas” mostrá-los: “fazer-lhes justiça do único modo possível: utilizando-os” – parece-me que define, a caráter, o livro de estréia ora em questão.
 
Trata-se de projeto específico, a levar em conta palavras do próprio autor: “Como nativo da Amazônia, escrevi o que vi e ouvi, convicto de que o mundo precisa conhecer uma parte da humanidade ameaçada de extinção”.

Não, tão, o “lixo”: as águas poluídas, a fauna e a flora “devastadas pela ganância de uns, pela ignorância de outros e, principalmente, pela lógica perversa de um sistema econômico que, em sua fome insaciável de lucro, devora a natureza e esmaga as pessoas”.

Sim, o caboclo com “suas lutas, tristezas e alegrias, esperanças e decepções” aqui e agora. A amostragem, a utilização, se fazendo com base na idealização ficcional menos plástica que na verdade teatralizante, com aproveitamento do pictório desde que “em função” da reflexão em movimento, isto é, do dis/cursivo; como nas lições de Abguar Bastos de Terra de Icamiaba, a Amazônia que ninguém sabe, 1929.

Desenvolvendo uma narração que redimenciona o fato natural como totalidade, isto é, enquanto o concreto que o imaginário reimplanta e como real que se desdobra artisticamente, o escritor escapa da representação (o realismo no físico e nada mais) que, geralmente, trai uma intenção puramente ducumental, fora, portanto, do fenômeno estético sem o qual inexiste criação legítima.

Paraense de Santarém, inda que eventualmente sediado na paisagem paulista de São José dos Campos, Nicodemos Neves Sena conhece, no sangue, nos nervos e na pele, o que põe em cena: (uma) saga amazônica.

E o põe – idéia, realização, objeto – “na” linguagem dialeticamente intuída, o que influencia, na origem, a língua (oportuno o glossário distendido ao final do volume para “remontagem” do leitor não paraoara) e faz dela um vaso comunicativo bem mais adequado à operação que, literariamente, deflagra.

Nicodemos nos lança à leitura de uma face da Amazônia que é mitológica, sim, porém no sentido “grego”: o da palavra que busca a luz e, com isso, “fura” a selvageria do obscuro. Todavia o que ele quer é a visualização não-conceitual do lendário e do que se diz que seja “sobrenatural” que navega na mente cabocla, sem as preocupações científicas do estudioso do imaginário popular – fonte dos levantamentos e das pesquisas sócio-jornalísticas – como as  que conduz Walcyr Monteiro a viajar, ilhas e igarapés adentro, coletando elementos para as suas histórias de visagens e assombrações.

O projeto que detona este livro exige legitimação que somente pode ser atingida fora da conceituação analítico-expositiva e do mimetismo da natureza resignada (digamos) à semelhança externa.

Para obtê-lo, Nicodemos Sena renunciou às possibilidades da ciência, organizando-se romancista, num esforço de imprimir instrumentalidade de “encantamento” ao leque de fantasias que abre à leitura.

Jogar no ar perspectivas de recuperação do que é simbólico em si, sem cair no registro arqueológico, foi o risco adotado que o escritor, ousadamente, sem medo que o acusem de oportunista, assumiu.

Venceu o jogo, e sem prejuízo da consciência objetivamente histórica,  o senso do onírico conectado a uma certeza de lucidez que, a cada esforço de superação do surreal, dissolve o mito na sua mesma alegoria.

Desse modo, o ficcionista se consegue afirmar, e sem abandono do fenômeno ficcional, valoriza sua condição de “autor da região”, configurando, esteticamente, o conhecimento topográfico de que dispõe.

Abre-se, pois, A Espera do Nunca Mais, a leitura, no percurso das exterioridades de um significado de visão efetiva de coisas e seres que são regionais sem nada de regionalização forçada ou intencionalmente imposta, que é interna tanto quanto externa na procura das verdades da arte.

Trata-se de um romance de verdade que recria a nossa região como gênero, aperfeiçoando-se incessantemente à medida em que a palavra, som e imagem, resgata o sonho, a magia, o continuum da lenda.

Porque, aqui, o fundamental é a linguagem; e nela é que mora, vive e reside o tema, o lado, a face, que a forma oculta: o “conteúdo”.

Reivindico para esse estreante Nicodemos Sena o status  do que chamamos, em crítica, o criador, o artista, gramatical e visualmente; na retomada dos direitos, que tem, de “revisitar” o fundo da floresta de onde humanamente se origina, em revisita ostensiva e nitidamente literária.

Na atual geração de romancistas, sob o signo do Pará, é fascinante, e exata, revelação.
 
Se é verídico que o texto, que surge da leitura, deve se inserir no contexto, o mundo que o autor de A Espera do Nunca Mais transformou em escrita aguarda, agora, decifração dos leitores.
Bom apetite.

_________________
*Acyr Castro é jornalista e crítico de artes; autor, entre outros, de O detalhe da forma (O texto acima também foi publicado no jornal "A Província do Pará", 3/11/1999, e em "O Escritor", nº90, março/2000, jornal da União Brasileira de Escritores, São Paulo)


Faça seu comentário, dê sua opnião!

Imprimir
Voltar
Página Inicial

Autores Selvagens

Autor

» António Cabrita

António Cabrita ainda é uma novidade para o público brasileiro, mas não para a crítica do Brasil, que acompanha os passos desse importante e irrequieto escritor português. Adelto Gonçalves, doutor em Literatura Portuguesa pela USP-Universidade de São Paulo, afirmou: “Este português de Almada (1959) foi para Maputo (Moçambique) há poucos anos, numa época em que raros lusos se dispõem a ir para a África e os que de lá retornaram choram até hoje o ‘império colonial derramado’. Não se arrependeu, pois encontrou material, o chamado ‘tecido da vida’, para escrever novas e surpreendentes histórias como estas que o leitor brasileiro tem a oportunidade de conhecer”. E Maurício Melo Júnior, que é escritor, crítico e apresentador do programa Leituras da TV Senado, escreveu a respeito do romance "A Maldição de Ondina", que marca a estreia de António Cabrita no Brasil: “António Cabrita traz a capacidade de domar o espírito aventureiro e conservador de Portugal. E isso é o cerne de nossa alma universal”.

Colunas e textos Selvagens

© 2008 - 2021 - Editora e Livraria Letra Selvagem - Todos os Direitos Reservados.