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O Feroz Círculo do Homem
Página publicada em: 08/04/2015
Carlos Nejar / Preço: R$30,00 (160 pág.)
R$ 30,00
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Delírios de imagens e uma elegante teoria da morte pairam nas páginas de "O Feroz Círculo do Homem", obra-prima da literatura ficcional escrita hoje no mundo. Em dez capítulos, escutamos a voz de Carlos Nejar ecoar no pensamento do relator Tibúrcio Dalmar, personagem enveredado na arte de guardar as sombras das almas no sótão de uma tenda localizada em Pontal do Orvalho — entre o cimo do monte e as margens do rio João Aragem — que toma a forma de uma Caverna circular, governada pelo enigmático Círculo. Metalinguagem —introspecção de mitos — filosofia e poesia transpõem-se em ciclos eruditos neste romance de signo e mistério.
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Carlos Nejar usa a primeira pessoa para evocar seus conhecimentos e suas leituras, que perpassam de Platão a Norberto Bobbio, de Dante a Eliot, de Fernando Pessoa a Mário Quintana, de Kafka a Borges, de Confúcio a Hemingway, de Goethe a Pablo Neruda, sempre a elevar o texto sem banalizar a sua própria visão de mundo, em vasta perplexidade literária:
 
Presos nos limites das cercas, criavam cercas em si mesmos.
Porque resistir é devorar furiosamente o que nos devora.
Quem não pode comer o sol, come o deserto.
E eu pensava: criar é tirar a alma do nada. Esquecer é tirar nadas da alma.
Suportei a dor de estar dentro de uma estrela.
 
Os achados da inteligência de Carlos Nejar são notáveis. Feroz é a morte com a sua ronda de caimento — rodopio de chamados — a arrastar o homem no círculo de sua cabala anunciativa. Alma, sombra, sonho, amor, cão, cavalo, Deus, e, sobretudo, a Palavra, são reflexos simbólicos de uma cosmogonia enaltecida pelo universo nejariano, que busca o encantamento estético e a sobrevivência, na eternidade da Língua.
 
A palavra come a morte e depois fica jiboiando calada. E continua palavra, continua incessante, continua comendo a morte.
Nasci para fora da noite, com a boca nas estrelas. Sopro e elas ventam.
E reuniram-se os habitantes em torno dos círculos relampejantes, achando no ruído a voz de gerações.
Não sei quem sou, mas quem saberá? Não quis buscar um nome, que o nome me procurou: Tibúrcio Dalmar.
 
O Feroz Círculo do Homem é uma parábola do nosso tempo, onde a hipermodernidade devora os sons da primeira manhã. Carlos Nejar é testemunha da velocidade dos dias e da complexidade dos tormentos da humanidade, que sofre de uma doença nefasta: o esvaecimento das almas viventes.
 
Tive o privilégio de ver Deus dormindo e era tão belo!
E eu sou, serei o que não saiu da infância.
Cinzas, cinzas, cinzas. É onde irei sobreviver.
Mas tendia a ser uma versão bárbara e bárbaros são os que residem no lado soturno do refúgio dos vivos.
E pode o tronco do homem dormir no do cavalo? Ou pode Deus dormir onde a infância dorme? Quem me ouve, ao acordar dentro de uma pedra?
 
Destinado ao Belo, a narrativa de Carlos Nejar alça voos sobre a linguagem, desvendando a genialidade do seu arrebatado sopro criador, na metafísica alada dos passos oníricos.
 
Como o gênio é punível ao ser qualidade do abismo.
Amar, amar é um susto terrestre e não se volta atrás.
A beleza das almas é tão feroz que ninguém resiste à sua luz.
E a alma é seu próprio céu, ou seu inferno.
Mas não se diz que alma caminha sozinha?
Não me rio dos loucos, rio-me da petulante loucura.
 
Impactantes são os raros mas preciosos diálogos sobre o Amor. Tíbúrcio Dalmar tem por amante a artesã Lualva. A troca de lirismo entre ambos promove a tão almejada ascese artística — as sensações do espantoso nomear da vida:
 
— Olhaste, olhaste bem?
— Quem és que tanto desejo?
— A natureza me concebeu assim, como a árvore as amoras.
— Sem culpa. Somos felizes.
— Amar é ir ficando nas coisas.
— Não, não canso de ser feliz.
— Sou pedra. Não escolhi. Posta na luz.
— O amor é beleza e ameaça.
— Não temo. Partilhamos.
— Temos tanta alma, que pouco nos serve o corpo, salvo para celebrar a alma.
— Às vezes corpo é alma.
— Sou meu corpo no teu.
— Está vertendo silêncio o amor.
— O silêncio vai-se cavando, cavando de amor.
— Não é preciso dizer tudo.
— Não dizemos nada em tudo.
— Quando a primeira vez que te abracei: tinha alma junto e se ocultou.
— Meu corpo no teu, como na candeia o lume.
— Somos de palavra uma só candeia. E é o fogo que tira o pó que vem sobre o amor.
— Eu te amo — falei. E o que se ama, se inventa.
— É o paraíso...
— É estarmos no mesmo grito.
 
O erotismo se revela com essa passagem memorável:
 
Havia uma mulher que eu amava e nem deixava de a alma ouvir. Que amor não tropeça nos ouvidos, entra de corpo e tudo. Era morena, encorpada, lastreada de curvas e volúpias, com olhos de riacho parado. E a levei para a tenda. Na cama solteira. Lualva se chamava e a lua queria cair do céu no abraço que a estreitei. E fizemos amor, tinha fala amor e vi que a alma que toma leme dos corpos. Era alma demais. E os lábios unidos, brancos brancos dentes e a língua exata e o céu dos céus nas bocas. E a boca de todos os escondidos céus. E estávamos no centro dos planetas, das estrelas maiores. E os seios brotavam com os córregos da noite. E o que pode parar o amor, senão quando a semente explode. E comemos a luz. E a luz também explode. Nem há limites de um corpo a outro, com a livre travessia do vento. E seu nome reverdece com a macieza da relva. Manhoso é pensar quando é o céu pode debaixo. E dormimos, dormimos, um dentro de outro, o arquejar de um no outro e tombava ouro, ouro entre os redondos orvalhos. E o fogo não sabe mais gemer nome algum. Noutra peça da tenda, os vasos das sombras das almas balbuciavam, arfantes. Pareciam querer sacudir a escuridão. E elas, ainda almas, mesmo sombras entendem de almas. E meu coração andava de um lado ao outro do peito, não cessava de galopar como se estendessem, velozes, pelos prados. E nas mãos dadas, nos dávamos o segredo dos cometas e nebulosas. E vi, convicto, de que é no amor que Deus dorme e é belo. Toda a alma se calibra noutra e continua sob o invólucro do mesmo e intenso clarão. Tudo vê o amor e as almas se defendem como pérolas dentro das ostras.
E o amor avança, avança dentro de uma estrela. E me esqueci do Círculo e ele me esqueceu. Vou empalhar a morte como um passarinho.
 
Carlos Nejar está entre os maiores bardos da Língua Portuguesa. Ele domina a arte da fabulação, um ritual para poucos. Somente os eleitos pelos deuses carregam a sina da profecia, dom ofertado aos Poetas natos.
 
Passou uma vaca diante de minha tenda e se vaca tem alma é nas patas ou nas tetas aliciantes.
E são escreventes e talvez ainda alinhavem suas poesias completas, com ritmos lactantes, de apreciável aceitação crítica.
A vaca tem a imortalidade no pelo e no farto ubre. E quem também a contemplou, passando e estava noutra tenda, foi o habitante do Círculo, Monterroso — humorista e perito em pararaios.
E a vaca mugia silêncios e versos com pés quebrados. Sim, até a vaca inventava. Por ser sonâmbula de imaginação.
 
A exaltação de Deus vem fortalecida na síbila do Círculo, composta por três pedras redondas e brancas, que, na profética tenda, se desvela apenas no próprio Deus.
Carlos Nejar traz uma imagética em permanente evolução. A alma se esconde nos olhos do homem e a sensibilidade torneia a morte, a anciã morte, a quem ninguém escapa de seus guizos. Eis a universalidade deste romance, feito das voracidades absolutas.
 
Sim, saí de uma semente, era um ovo de dentro da morte.
E as coisas se dão abaixo de mim, como o céu abaixo das estrelas. Não me acrescento de alma. E ela é o corpo de minha sombra. Sou de uma raça que não cai: só Deus sabe o que fazer de mim. As ruínas me trabalham. Eu não me curei de amor. E a morte me curou da morte.
 
Deu-me vontade de morar numa árvore na infância e tanta infância tive que nem deu tempo. Ao ter idades (sei que não possuo uma só), a tenda me basta, sinal de passagem, mas apenas posso aonde a palavra me levar.
 
E a convicção de que Deus não faz a mesma coisa duas vezes. Mas igualmente pode fazer a mesma coisa tantas vezes e ser diversa ou imponderável. Intuo que as almas têm duração que ninguém mede e se abotoam de tamanha claridade, que nem a claridade sabe. Isso se dá quando livres, isentas de corpo. E não podem descer entre graus do mesmo sonho.
 
Tudo o que é de alma é para dentro. E o povo de alma é de Deus. Não oculto ter aroma de árvore, desde menino. A boca soprada no tronco e o tronco subindo do sopro. Todo o sonho tem cheiro de árvore, por ser vegetal a luz. E a alma é vegetal e voa bem para dentro da luz.
Só que não disse qual seja, ou nunca saberá. E a verdadeira profecia é atestada apenas quando se cumpre. Dirá alguém: — Por que não se corrige a pedra circular puída?
 
A energia, ali, é tamanha, que aquele que a tocar pode ser fulminado. E ninguém — que se saiba — guarda a veleidade de morrer.
E a memória se escreve para dentro.
 
Além da sabedoria, o leitor encontrará em O Feroz Círculo do Homem um punhado de axiomas da safra poderosa e autêntica de Carlos Nejar, que servirá de guia para a tortuosa aventura humana, sem limites para a travessia, e com caminhos possíveis para a transcendência. Porque a realidade acaba na fantasia de outra realidade.
 
O que perturba na espécie humana é a acomodação ao que é terrível, ou devastador.
Todavia, um só louco é capaz de produzir muitos loucos.
O que é incurável, além dos cataclismos, é a ausência da humanidade entre os racionais e a compaixão insondável dos bichos.
Porque amizade é amor que não se conjuga.
Os sonhos não tiram férias — confirmo. Como o meu cão. E é gentilmente protestante. Nem as sombras das almas tiram férias. Nem Deus.
Se nada nos salva da sociedade, quem nos salvará de nós mesmos?
Nada dura eternamente, apenas a palavra. E que estranha criatura é o homem!
Tenho muita vida para esquecer.
E as sombras são retratos imaginários e documentados de almas.
Estou triste porque ainda não desfiz todas as pegadas no deserto. E alguém me reconhecerá.
E o tempo pode ser uma loucura, não a história.
Só não morro de essência por causa da palavra. E não consigo designar cada monte, cada estrela.
Nem chegarei antes de brotar com a palavra. Sou atirado como pedra num arco que não volta. E se não voltou, ficarei entre cometas e astros. Porque começo a perder a noção terrena, começo a ser outro em mim.
Não como o deserto, como a luz.
E o que não divulgo é esta condição de estar vivo, para que me deixem quieto, como um leão velho na toca. Não tentem me desafiar com vara curta ou longa. Não abandonei a natureza de leão. E o que é vivo, devora.
Os grandes olhos de meu cão se parecem com os de minha alma. E me vem o sussurro de voar e me elevo e não há olhos que me sigam. Sou espírito na espessa luz. Livre, cheio de vento. Sim, sou de vento — saibam todos! Sou de vento em vento e quem me agarra? Dou cambalhotas como garoto no ar que não tem musgo. E vou-me polindo de Deus. A quem não sabe, nem percebeu enquanto vivo entre todos, sou de vento, sempre residi nele. Quanto mais palavra me encobre, mais vento me torno.
Mas são sinos que não terminam, porque jamais somos terminados, salvo na eternidade. Morremos de viver.
 
Carlos Nejar é um mago da palavra, em altiplano linguístico. E das pedras do Círculo veio o inesperado, a redenção da derradeira Palavra:
 
E ao ver o nome das pedras, que ninguém desvendava, leu, ali, “Deus”. Viu a palavra “Deus”.
 
O principal predicado do romance de Carlos Nejar é levarnos à reflexão, às substanciais dimensões de nossos comportamentos em sociedade. Nejar é ave; O Feroz Círculo do Homem: rapina.

(Posfácio de Diego Mendes Sousa)

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