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Álvaro Alves de Faria
Página publicada em: 16/05/2015
Já em 1971, ano da primeira edição do romance "O Tribunal" (Editora Martins-SP), Álvaro Alves de Faria, com apenas 29 anos de idade (nasceu em São Paulo em 1942), era considerado “um dos escritores jovens mais conceituados” do Brasil, como informa o jornalista Durval Monteiro nas orelhas do livro. Da Geração 60 de Poetas de São Paulo, Álvaro Alves de Faria publicou mais de 50 livros, incluindo poesia, novelas, romances, ensaios literários, livros de entrevistas com escritores e é também autor de peças de teatro, entre elas "Salve-se quem puder que o jardim está pegando fogo", que recebeu o Prêmio Anchieta para Teatro, um dos mais importantes dos anos 70 do Brasil. Como poeta, recebeu os mais significativos prêmios literários do país. É traduzido para o inglês, francês, japonês, espanhol, italiano, servo-croata e húngaro.
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Álvaro Alves de Faria iniciou, em 1965, o movimento de recitais públicos nas ruas e praças de São Paulo, quando lançou o livro O Sermão do Viaduto, um comício poético em pleno Viaduto do Chá, então o cartão-postal da cidade. Com um microfone e quatro alto-falantes realizou nove recitais no local e essa atividade desagradou aos militares que haviam usurpado o poder em 1964.
 
Em 1966, os recitais poéticos no Viaduto do Chá foram definitivamente proibidos, ano em que escreveu O Tribunal, com apenas 24 anos de idade. Devido a esses recitais, o poeta já fora preso cinco vezes acusado de subversivo pelo DOPS (Departamento de Ordem Pública e Social). Voltou a ser preso em 1969, por desenhar os cartazes do então clandestino PSB (Partido Socialista Brasileiro).
 
Com o fim dos recitais públicos, Álvaro Alves de Faria concentra-se numa intensa atividade poética — que também era essencialmente política — por meio de recitais de poemas em colégios, ginásios e faculdades, e, ao mesmo tempo, vai ruminando novos livros. O Tribunal é sua primeira incursão pela prosa de ficção. Nas orelhas da 1ª edição, Durval Monteiro, colega de jornalismo e amigo de infância do escritor, informa como se gestou o livro:
 
“Está aí O Tribunal, depois de sete anos de isolamento. (...) Eu vi o livro nascer, crescer dia a dia, palavra por palavra, silêncio por silêncio. Acompanhei todo o trabalho de estruturação deste livro e senti a preocupação terrível de um poeta, de um escritor diante de sua obra, de seu depoimento. E sei que o Álvaro, como homem, como seu próprio personagem, está presente em todos os momentos deste livro. Com seus cabelos compridos (isso é importante?), sua angústia, sua visão profundamente caótica do mundo. Na verdade, eu sei, O Tribunal é a opção de Álvaro em relação à própria literatura. É uma palavra de coerência do começo ao fim do livro.”
 
E o amigo de infância continua:
 
“Ele se propõe (e isso não é novo nele) a ser um escritor marginalizado. Consegue. Ele, tenho certeza, continuará falando das coisas que vivem dentro de si, marginalizado ante o caos do século, numa difícil e jovem linguagem que não ficará perdida na confusão dos nossos dias: ele não está falando sozinho. Estas coisas todas, não é absurdo dizer, serão analisadas mais tarde, à luz da História.”
 
Ao escrever sobre O Tribunal, na época, Lygia Fagundes Telles observou:
 
“Em que laboratório físico-químico se processará a operação de separar o corpo do espírito? Esse estilo raro encontrei em O Tribunal. Novela? Romance? Um texto diferente, estranhíssimo, num tom confessional mas sem cair nunca no monótono, no banal. Perplexidade. Busca e fuga num enrodilhado de perguntas sem respostas, as palavras tão palpitantes e sob a pele das palavras, as ideias pulsando como um coração no fundo de cada uma. Prosa poética no seu mais alto sentido, sem concessão alguma. Sem desfalecimento”.
 
Lygia Fagundes Telles escreveu, ainda:
 
"Nunca me senti certo de qualquer verdade senão percebendo claramente a sua beleza — escreveu Keats, o poeta que mais insistiu em colocar na raiz da beleza a própria verdade. Álvaro Alves de Faria, no seu tom às vezes possesso, delirante, busca essa verdade e consegue tocá-la, o que faz de O Tribunal um documento inquietante, porque a verdade é sempre inquietante. Se o reino da poesia é o da síntese, o da prosa é o reino da análise e nessa análise Álvaro Alves de Faria desce fundo sua âncora que atinge todo o turvo emaranhado das paixões”.
 
Álvaro Alves de Faria é um daqueles autores cada vez mais raros, que têm um compromisso com a Literatura. Tem uma verdade a dizer. Uma verdade quase toda vivenciada. A tortura e morte são duas personagens que rondaram a sua existência, deixando amargas lembranças, que o artista, com a sua alma gentil, procura afastar do caminho. E, para dizer essa verdade, lança mão de todos os recursos e todos os gêneros literários, com o mesmo zelo e profundidade.
 
O Tribunal não é propriamente o que se poderia chamar de “um livro brasileiro”. Poderia ter sido escrito em São Paulo (como o foi), Paris, Tóquio, Nova York ou em qualquer cidade do mundo. Uma coisa universal. É isso que está interessando, conforme disse o próprio poeta em entrevista nos anos 70.
 
Em 1976, publicou outra novela, O Defunto – Uma História Brasileira (Editora Símbolo, SP), mais um texto contundente e visceral, que mostra um tempo de violência e desencanto, de mortes, angústia e desespero, em que o homem é massacrado em cada gesto, sem nenhuma perspectiva diante do clima que então se apresentava no Brasil e no mundo.
 
Também em 1976 surge a 2ª edição de O Tribunal (Editora Símbolo, SP), trazendo o consagrador prefácio de Geraldo Galvão Ferraz (1941-2013) onde este afirma:
 
O Tribunal mostra um personagem que avança pelos meandros de uma selva escura, através de barbáries e miséria, lutando pela consolação desse sentimento positivo — o amor. Mas esse internar-se pelo labirinto é elaborado por um espírito penetrante e talentoso, resultando daí esse livro, representativo da melhor literatura que se faz no Brasil. E, mais do que nada, um livro que provoca, perturba e faz pensar. O que pode haver de mais importante numa obra de arte?”
 
Em 1986, com a mesma força de expressão e contundência estilística, retorna ao romance, com Autópsia (Editora Traço, SP), avalizado com a participação de José Louzeiro, autor do texto de orelhas, onde afirma:
 
“Mas, afinal, o tema central desta obra do poeta Álvaro Alves de Faria é o homem e suas contradições, angústias e perplexidades, diante de um mundo sem alternativas, de ideias doentes e ferimentos abertos. Esse tempo talvez seja passado, mas é inegável que ainda estão entre nós seus vestígios e essas marcas de muitas feridas abertas na violência, no esmagamento dos direitos fundamentais da vida humana.
O romance nos passa diante dos olhos como um filme sinistro, feito de fatos que, muitas vezes, ultrapassam a própria realidade, para desabar pesadamente onde a vida se torna totalmente impotente diante dos massacres, a impotência ainda lúcida de não se saber o que é a loucura ou a angústia de enlouquecer.
Autópsia é um livro dramático retratando um tempo brasileiro de desespero, com uma linguagem sempre caminhando lado a lado com a poesia. Depois de dez anos, Autópsia salta da gaveta como um dilacerante grito de dor.”
 
Com efeito, num período da História brasileira em que tanto se precisava ouvir as vozes dos encarcerados e emparedados pela truculência militar, Autópsia, inexplicavelmente (seria mesmo inexplicável?), permaneceu engavetado por dez anos até que veio a lume, em 1986. O escritor e jornalista Renato Pompeu (1941-2014), que assinou o prefácio, se pergunta:
 
“Por que o romance de Faria — autor bem conhecido, de vários outros livros — teve dificuldade para ser editado? Seria por ser crítico em face das autoridades? Seria por ser crítico em face dos militantes?”
 
Autópsia é uma poderosa narrativa-documento de um tempo de sombras e de morte, em que insidiosos e cruéis insetos se alimentam de carne humana. Os insetos odeiam a luz. A tarde está cheia de insetos e aracnídeos. Mas esse romance de Álvaro Alves de Faria também joga luz sobre o ambiente abafado das redações dos grandes jornais brasileiros, numa época de censura. A morte, com seus múltiplos tentáculos, aniquila corpos e mentes.
 
A resposta à pergunta de Renato Pompeu salta com força e clareza: Autópsia — “esse romance a um tempo belo e militante” — foi longe demais ao revelar as entranhas de um sistema apodrecido e degenerado e, ao mesmo tempo, manter-se crítico em relação aos que, na sociedade civil manietada, quedaram-se omissos ou rastejantes diante do poder.
 
O poeta Álvaro Alves de Faria é autor de vários romances. Além deste O Tribunal, os outros dois aqui mencionados — O Defundo – Uma História Brasileira e Autópsia — serão publicados pela LetraSelvagem.
 
Da Geração 60 de Poetas de São Paulo, Álvaro Alves de Faria publicou mais de 50 livros, incluindo poesia, novelas, romances, ensaios literários, livros de entrevistas com escritores e é também autor de peças de teatro, entre elas Salve-se quem puder que o jardim está pegando fogo, que recebeu o Prêmio Anchieta para Teatro, um dos mais importantes dos anos 70 do Brasil. A peça foi proibida de encenação 15 dias antes da estreia e ficou censurada por seis anos. Como poeta, recebeu os mais significativos prêmios literários do país. É traduzido para o inglês, francês, japonês, espanhol, italiano, servo-croata e húngaro.
 
Descendente de portugueses (sua mãe é de Famalicão, Portugal, e seu pai de Lobito, Angola), com sua “alma estrangeira”, há 15 anos se dedica à poesia de Portugal, país onde tem 13 livros publicados — 12 de poesia e uma novela —, trabalho que se estendeu também à Espanha, onde já publicou seis livros, destacando-se uma antologia com mais de 350 páginas, com tradução do poeta peruano-espanhol Alfredo Perez Alencart. Costuma dizer que fugiu para Portugal por não suportar mais, sem generalizar, os rumos medíocres da poesia brasileira amparados por um jornalismo cultural de caráter duvidoso.
 
Como jornalista, dedicou-se sempre à área cultural, em especial à crítica literária em jornais, revistas, rádio e televisão. Por esse trabalho em favor do Livro, recebeu por duas vezes o Prêmio Jabuti da CBL (Câmara Brasileira do Livro), em 1976 e 1983, e por três vezes o Prêmio Especial da APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte), em 1981, 1988 e 1989. (Nota do Editor, 1º de maio de 2015).
 
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» António Cabrita

António Cabrita ainda é uma novidade para o público brasileiro, mas não para a crítica do Brasil, que acompanha os passos desse importante e irrequieto escritor português. Adelto Gonçalves, doutor em Literatura Portuguesa pela USP-Universidade de São Paulo, afirmou: “Este português de Almada (1959) foi para Maputo (Moçambique) há poucos anos, numa época em que raros lusos se dispõem a ir para a África e os que de lá retornaram choram até hoje o ‘império colonial derramado’. Não se arrependeu, pois encontrou material, o chamado ‘tecido da vida’, para escrever novas e surpreendentes histórias como estas que o leitor brasileiro tem a oportunidade de conhecer”. E Maurício Melo Júnior, que é escritor, crítico e apresentador do programa Leituras da TV Senado, escreveu a respeito do romance "A Maldição de Ondina", que marca a estreia de António Cabrita no Brasil: “António Cabrita traz a capacidade de domar o espírito aventureiro e conservador de Portugal. E isso é o cerne de nossa alma universal”.

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