"Escritores Brasileiros do Século XX", da professora Nelly Novaes Coelho, é a suma de 50 anos de estudos, leituras e releituras; a suma de uma vida dedicada à Literatura Brasileira, segundo o crítico Fernando Py (resenha publicada na "Tribuna de Petrópolis", 12.07.2013, RJ)
Professora universitária, desde 1960, titular de Teoria da Literatura na Faculdade de Letras de Marília (SP, 1961), doutora em Letras (USP, 1967), livre docente (USP, 1967), e professora titular de Literatura Portuguesa (USP, 1985), Nelly Novaes Coelho, crítica literária e ensaísta, dedica-se atualmente, aos noventa anos, à pesquisa e análise das Literaturas Brasileira e Portuguesa. Acaba de publicar uma obra alentada, Escritores Brasileiros do Século XX – Um Testamento Crítico (Taubaté, SP, LetraSelvagem, 2013, 976 p.; volume encadernado e com cobertura), no qual estuda e analisa 81 escritores, a grande maioria vistos pelos trabalhos de ficção (romance, novela, contos), além de memorialistas (Ascendino Leite) e um que outro poeta.
A autora indica essa enorme reunião de textos como sendo o seu “testamento crítico”, feito estivesse se despedindo de nós, seus leitores. É evidente o exagero, pois Nelly Novaes Coelho continua produzindo sem descanso. Escritores Brasileiros do Século XX é, como está dito na contracapa do livro, “a suma de 50 anos de pesquisas, leituras e releituras de obras apresentadas em cursos universitários, no Brasil, Portugal e Estados Unidos”.
É bastante diversificada a fama e a qualidade dos escritores reunidos no livro. Além dos mais conhecidos (Jorge Amado, Graciliano Ramos, Guimarães Rosa, Mário de Andrade, Oswaldo de Andrade, Adonias Filho, Ariano Suassuna, Autran Dourado, Fernando Sabino, Érico Veríssimo...), surgem nomes um tanto desprezados pela crítica ou pela “mídia” (Cornélio Pena, Octávio de Faria, Cyro dos Anjos, Campos de Carvalho, Murilo Rubião, João Ubaldo Ribeiro, Inácio de Loyola Brandão...), além daqueles mais antigos de valor (Lima Barreto, Monteiro Lobato...), ou que ainda não são bem conhecidos pelo público (Antônio Olavo Pereira, Guilherme Dicke, Samuel Rawet, Alaor Barbosa).
Além da natural diversidade no escopo de seus trabalhos, as obras desses escritores põem à mostra a quebra de padrões que reflete uma sociedade exausta e cansada de Deus e das ideologias, muito embora nada feliz com o caos materialista que a envolveu. De todo modo, o livro de Nelly Novaes Coelho é de leitura e consulta imprescindíveis.
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*Fernando Py é poeta, crítico literário e tradutor brasileiro. Traduziu a íntegra da monumental obra proustiana Em Busca do Tempo Perdido (Ed. Ediouro, 2002, RJ)