Uma viagem à Amazônia através do que de melhor já se escreveu "na" e "sobre" esse verdadeiro "continente" que é mais do que a metade do território brasileiro (resenha publicada originalmente na "Tribuna de Petrópolis", Petrópolis, RJ, 30.11.2012)
Recentemente, o ensaísta mineiro Fábio Lucas publicou Peregrinações Amazônicas – História, Mitologia, Literatura (Taubaté, SP; LetraSelvagem, 2012). O volume nos revela as “melhores vozes” da região de florestas gigantescas e uma área de aproximadamente 4 mil rios que formam a maior bacia fluvial do mundo. Apesar de representar cerca de 60% do território pátrio, a Amazônia é ainda mal-conhecida dos brasileiros, embora bastante comentada. É um Brasil que provoca grandes preocupações – sobretudo quanto ao problema de meio ambiente – e é desde sempre cobiçado por nós e pelos estrangeiros.
Com fino critério de observação, análise e sensibilidade crítica, Fábio Lucas chama a atenção do leitor para lendas, navegações, exploração da borracha, pesca, madeira, gado e plantações de soja, mostrando como, de fato, o brasileiro em geral não mal conhece a Amazônia como também, até certo ponto, aceita sem refletir a visão simplista e deformadora dos turistas e aventureiros.
Nos três capítulos do livro, todos igualmente fundamentais, Fábio Lucas se reporta ao que já se pensou e escreveu “na” e “sobre” a Amazônia. Não apenas faz um levantamento histórico da região, mas estabelece um roteiro seguro, indispensável, para um conhecimento maior, seja existencial ou filosófico, dessa Amazônia desconhecida do Brasil e do mundo, uma região sensível, pensante, inteligente, representada por escritores, poetas, ficcionistas, historiadores, sociólogos e filósofos de valor. Estuda prosadores e poetas como os amazonenses Márcio Souza, Thiago de Mello, Aníbal Bessa e Astrid Cabral, os paraenses Benedito Nunes, Inglês de Sousa, José Veríssimo, Benedicto Monteiro, Dalcídio Jurandir, Olga Savary e Lindanor Celina, o acreano Jorge Tufic, e até os maranhenses Ferreira Gullar, Nauro Machado e Arlete Nogueira Cruz, além de muitos outros.
Acima de todos, Fábio Lucas dedica ao fluminense Euclides da Cunha as quarenta páginas do capítulo II, elogiando, no autor de Os Sertões”, a atitude crítico-assimilativa em face da ciência estrangeira, mas também aponta seus erros, como o de considerar o sertanejo uma “sub-raça” e julgar o negro e o índio “raças primitivas”. De todo modo, o trabalho de Fábio Lucas merece uma leitura cuidadosa.
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*Fernando Py é poeta, crítico literário e tradutor brasileiro. Traduziu a íntegra da monumental obra proustiana Em Busca do Tempo Perdido (Ed. Ediouro, 2002, RJ)