Simplicidade, leveza e sofisticação da linguagem, na pena do cronista cearense, radicado em Mossoró-RN, Clauder Arcanjo (resenha publicada originalmente na "Tribuna de Petrópolis", Petrópolis, RJ, 27.02.2015)
As crônicas de Clauder Arcanjo, em Uma graça no asfalto (Taubaté, SP; LetraSelvagem, 2014) atraem o leitor por dois motivos: são muito bem escritas e conseguem prender suas atenção em todo o transcorrer do texto. Em nenhuma delas existe o ranço dos textos elaborados com a preocupação de “fazer literatura”. Aliterário, portanto? Nem de longe... Clauder Arcanjo escreve com simplicidade, sim, mas uma simplicidade que engana – como, em outra medida, enganavam os poemas e sonetos antigos de Quintana, que alguns críticos dos Anos 40 consideravam passadistas –, uma simplicidade que maneja ativamente o discurso. Falando do amor conjugal, das vicissitudes diárias de todos, das pequenas tragédias ignoradas pela imprensa, apresentando gente de comportamento algo misterioso, como as duas mulheres que compram jornais e os distribuem para leitura de outras pessoas; e, além disso, criando personagens típicas em textos de leveza e humor, feito o indivíduo de pernas curtas que se transforma em campeão de corridas, ou as crônicas relativas ao Acácio, o que temos é sempre o escritor que conhece e estima a literatura brasileira e seus principais vultos, sobretudo Machado de Assis.
Clauder Arcanjo é um escritor importante, talvez ainda mal conhecido no Sudeste e Sul do Brasil, mas de valor inconteste. É um grande prazer estético a leitura completa de Uma garça no asfalto.
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*Fernando Py é poeta, crítico literário e tradutor brasileiro. Traduziu a íntegra da monumental obra proustiana Em Busca do Tempo Perdido (Ed. Ediouro, 2002, RJ)