"E é assim Clauder Arcanjo, que a partir de um olhar para o voo majestoso de uma garça aguça ainda mais o seu olhar de pássaro e que tendo nas veias lápis voa mesmo sem asas, com as pontas dos dedos." (Confira, a seguir, na íntegra, o que escreve o articulista Chumbo Pinheiro sobre "Uma garça no Asfalto", de Clauder Arcanjo)
A arte da escrita tem se apresentado com vigor e brilho no solo literário potiguar. Vemos surgir novos poetas, contistas, cronistas que enriquecem com seus talentos a produção literária norte-rio-grandense. Vão se afirmando e ocupando seus espaços no cenário da literatura; livros, revistas, jornais divulgam a nossa criatividade; editoras locais e nacionais, sites e outras mídias eletrônicas postam e publicam nossos autores.
Escritores que cantam as nossas belezas, nossos sentimentos e transformam as agruras do dia a dia em palavras que aliviam com sua serenidade e força a luta pela vida. Fazem com seu olhar uma leitura para além da superficialidade com a qual observamos os fatos. Extraem do que parece corriqueiro e banal ou do inusitado, a essência mais sublime dando-lhes um significado e um sentido que muitos de nós na maioria das vezes somos incapazes de perceber.
Entre os gêneros literários que parecem realizar com maior perspicácia esta leitura dos fatos cotidianos e transformá-los compreensivelmente mais amenos e até mesmo agradáveis e explicativos está a crônica. Neste sentido, temos aprendido muito com os mestres desde Machado de Assis, passando por Rubem Braga e Fernando Sabino.
E como não lembrarmo-nos de Dorian Jorge Freire, Berilo Wanderley, Sanderson Negreiros, Vicente Serejo, dentre outros. Soma-se a estes nomes Clauder Arcanjo, potiguar de coração, com o seu livro Uma garça no asfalto. Segundo o escritor-editor Nicodemos Sena, que escreveu para a orelha do livro, “O título... remete ao tema das “coisas fora do lugar”. E ao absurdo que está na base de toda boa literatura...”.
E é assim Clauder Arcanjo, que a partir de um olhar para o voo majestoso de uma garça aguça ainda mais o seu olhar de pássaro e que tendo nas veias lápis voa mesmo sem asas, com as pontas dos dedos. Com seu estilo esmerado eleva as figuras humanas e as coisas mais simples. Tiramos daí lições e exemplos do amor filial e materno como em Tributo à mãe desconhecida, Mãe com fome; Percebe a honra do trabalho na altivez do vendedor de cocadas, Cocada com açúcar, lição e afeto; a nobreza do engraxate, O lorde da graxa; a grandeza humana na solidariedade e compreensão da empregada doméstica, Helena.
Clauder em seus voos dialoga com Bandeira, Machado, Drummond; com os escritores do seu tempo, Manoel Onofre Junior, David de Medeiros Leite, Antonio Francisco; com poetas e pessoas anônimas que nos ensinam o valor e a beleza de um aceno e de um abraço que nos faz parar para refletir sobre estes gestos que parecem tão simples, contudo, expressam a maior grandeza humana.
Fica ao leitor, portanto, o convite: embarque nas asas da garça e nas páginas do livro e mais que o cheiro do asfalto dos nossos dias corridos sinta exalar o perfume das virtudes humanas tão necessárias nos dias de hoje.
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*Luís Pereira da Silva, que assina com o pseudônimo de Chumbo Pinheiro, é poeta e articulista. Autor de Alguns livros potiguares, e coautor de Nei Leandro de Castro - 50 Anos de Atividades Literárias