Elisa é Dido, a imortal musa de Virgílio, aquele mesmo que Dante Alighieri escolheu para ir consigo aos infernos, na Divina Comédia. No livro II d’A Eneida, Dido acolhe Enéias em Cartago e lhe pede que conte a tragédia da derrocada de Troia. Tornam-se amantes e o idílio ocupa até o livro V, quando o inexorável destino, tecido pelas Moiras, obriga Enéias a seguir viagem para fundar a Itália. Agoniada, a rainha africana sucumbe à amargura e se atira em uma pira funerária. Goethe também menciona Elisa, e Bernard Shaw dá o mesmo nome à sua florista, em Pigmaleão. Dido tem um irmão, Pigmalião, mas é outro, não aquele rei de Chipre que protagoniza As metamorfoses, de Ovídio.
Cleópatra, que subjugou pela paixão os imperadores romanos César e Marco Antônio, era descendente de Ptolomeu, general de Alexandre, o Grande, que depois da morte do comandante macedônio resolveu criar um império no Egito. Essa mulher não desempenhou apenas o papel de princesa romântica, lasciva e pérfida que as lendas lhe impuseram. Ao contrário, foi uma efetiva militante política, obcecada pela restauração do reinado ptolomaico. Não morreu de pena; morreu de raiva.
Zenóbia, três séculos adiante de suas duas companheiras citadas neste livro, ergueu-se habilmente à condição de rainha absoluta da pequena Síria, então reino de Palmira. Representante de uma nova era, do ponto de vista religioso, social e cultural, apoiou o judaísmo, financiou poetas e pesquisadores. Mas, ambiciosa, lançou-se à fúria expansionista. Imprudente, desafiou Roma. Proclamando-se parente de Cleópatra, conquistou o Egito pelas armas. Sucumbiu diante do exército de Aureliano.
São três mulheres que alcançaram destaque social e poder num tempo em que a mulher era subalterna, objeto, possessão apenas. Em comum, isto: afrontaram Roma, no mais augusto dos seus lauréis, que eram os seus generais (César, Marco Antônio, Cipião e Aureliano). Que maior demonstração de força a história conseguiria reservar para essas jovens?
A escolha dessas três personagens, para este livro, mostra a admiração de Dirce, a historiadora, pelas mulheres fortes — mesmo as que pereceram, vitimadas pelas próprias fraquezas. Foram, todas, mães zelosas na defesa dos filhos e herdeiros.
Este livro é algo como a historiadora realizar a pesquisa com um olho no espelho. Competente profissional, buscou as fontes consagradas, mas gentil escritora, não descartou as lendas e as variantes, porque toda lenda tem base real. Este livro é uma composição narrativa de verdades e mitos, descortinando informações que ultrapassam a frieza da pesquisa histórica.
Repetimos a pergunta que a autora se faz, a páginas tantas: “Será que cada uma dessas mulheres representa um passo na evolução da humanidade?”
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» Leandro Carlos Esteves
Leandro Carlos Esteves nasceu na pequena cidade de Lins, no oeste do Estado de São Paulo, em 19.11.1960. Em 1977, veio para São Paulo, onde se forma em Jornalismo, pela PUC (Pontifícia Universidade Católica). Cursou a Faculdade de História, com ênfase em métodos e pesquisa histórica, Antiga, Medieval e História do Brasil tanto na PUC quanto na Universidade de São Paulo (USP) onde também estudou filosofia.
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