Um dos grandes narradores uruguaios do Século XX, contudo, inédito no Brasil. Trabalhador incansável da palavra e criador inigualável em lingua espanhola. Pintor de sombras e escombros do humano. Inaugura, em seu país, o que a crítica chamou de ecritura dostoievskiana.
Francisco Espínola nasceu em São José de Mayo, em 4 de outubro de 1901, no seio de uma família de tradição blanca, abraçando ele a mesma divisa, até que, em 1962, se filiou à esquerda. Foi docente, crítico literário e teatral. Combateu contra a ditadura de Gabriel Terra e amargou prisão em Paso Morlán em 1935. Curiosamente, seus captores o reconheceram e felicitaram por Sombras sobre a terra.
Francisco Espínola fez parte de uma geração que vivia num ritmo lento e podia passar largas horas conversando no bar. O poeta Alfredo Mario Ferreiro, um dos amigos de "Paco", recordou num artigo que costumavam ouvi-lo e houve vezes em que Espínola falava por espaço de oito a dez horas. E parecia um minuto. Vestia-se sempre de escuro com gravata e colarinho quebrado, usado em camisas destinadas a trajes formais como o smoking, fortemente engomado, com as pontinhas de pé, modelo popular no início da década de 1900. Em suas fotos e caricaturas, Paco aparece sempre com um aspecto severo e formal, porém sua figura torna-se plena de sensibilidade quando os que o conheceram falam dele e de suas numerosas anedotas.
Morreu na madrugada de 27 de julho de 1973, ao mesmo tempo em que morria a democracia em seu país. Todos o choraram em silêncio, enquanto nas rádios troavam as marchas militares.
Espínola era um incansável trabalhador da palavra, tornando-se de imediato reconhecido não só pelos voos da imaginação e profundidade moral de seus textos, como também pelo esmero com que os tecia, carreando, de imediato, para Raza ciega (primeira coletânea de contos, 1926), o unânime elogio da crítica. Alberto Zum Felde, o principal crítico uruguaio da época, viu similitudes entre o novel escritor uruguaio e o genial autor de Crime e Castigo. Fato notável é que Sombras sobre la tierra, vazado em gênero mais complexo, sete anos depois de Raza ciega, surge impregnado do mesmo “sentido do profundo”.
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