ERUDIÇÃO SELVAGEM
Ao surgir com Tratado dos anjos afogados (Editora Letra Selvagem) Marcelo Ariel foi saudado pelo crítico Manuel da Costa Pinto como “acontecimento sem precedentes” (“Folha de S. Paulo”, 05/04/2008). A expectativa que se criou em torno de sua obra justificou-se plenamente com a publicação de Conversas com Emily Dickinson (Editora Orpheu). Caio Liudvik, no encarte Guia da Folha (“Folha de S. Paulo”, 30/07/2010), escreveu:
“O poeta Marcelo Ariel tem despontado como uma das expressões mais interessantes da literatura brasileira na atualidade. Sua vivência pessoal sob os grilhões da realidade precária de morador de Cubatão (baixada santista), de origens pobres e autodidata, porém, não faz dele um mero exemplo de autor catalogável sob a rubrica literária, tão em voga, de uma espécie de neorealismo cru que retrata a vida em periferia com o selo da autenticidade (e com “qualidade” inquestionável pelo simples fato de se ser alguém “de lá”). As opressões da realidade imediata parecem antes ser cifras de uma cena poética e matafísica mais profunda em Ariel”.
Ademir Demarchi, em texto de orelhas do Tratado dos anjos afogados, já afirmara que “outro aspecto marcante da poética de Ariel é o de uma escrita de cunho filosófico, metafísica, que questiona o tempo todo a essencialidade e a condição humana”. Tal “cena poética e metafísica mais profunda” torna-se ainda mais evidente em Ou o silêncio contínuo - poesia reunida 2007-2019 (Kotter Editorial, 2019) e Nascer é um incêndio ao contrário (Kotter Editorial, 2020). Trazer a lume, portanto, um livro como 22 clareiras e 1 abismo, do singular poeta-filósofo Marcelo Ariel, é, a um só tempo, inolvidável honra e seríssimo encargo, que a Letra Selvagem assume com imenso prazer. (Texto das orelhas - Nicodemos Sena)