Últimas décadas nos cinemas
Página publicada em: 04/06/2024
Mauricio Salles Vasconcelos - R$80,00 (249 pág.)
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As Últimas décadas nos cinemas não são apenas aquelas trazidas à discussão com a presença de filmes recentes (agenciados em conjunto, com a(s) história(s) do cinema), que surgem como personagens desse romance-ensaio (juntamente com alguns cineastas, como Sean Price Williams e Aki Kaurismäki), mas são também as muitas décadas vividas no cinema, dentro e fora das salas de exibição, por alguém quem nasceu junto com o auge do cinema e com ele viveu apaixonadamente. A “vida/ida” ao cinema de Ivo que, para além (e juntamente) dos muitos anos atuando como crítico, apresenta um inseparável amálgama entre vida e cinema... (Leia na íntegra o texto das orelhas)
Escreveu o protagonista Ivo Arruda Salva que cada fala abre um portal. O Livro-de-Bolsa, que se desenha com o que se grafou em tantos pequenos livretos, cadernos, carregados sempre tão próximos ao corpo (“marsupial”), reúne inúmeros portais portáteis, pelos quais se é levado a uma intensa movimentação através do tempo-espaço. A diversidade de registros, acontecimentos, sentimentos, meditações, reflexões, poemas, teses, críticas de cinema (cujos limites se confundem e transbordam), que nele se encontram unidos por uma forte sensibilidade, possibilita que aquele que o lê (incluindo aquele que o escreveu), esteja simultaneamente em São Paulo e na Finlândia, Petrópolis e Nova Iorque. Assim, penetra camadas de passado, incessantes (e refeitas quando rompem seu caminho a um exame presente), como também se pressentem os futuros, os saltos armados, à espreita.
As Últimas décadas nos cinemas não são apenas aquelas trazidas à discussão com a presença de filmes recentes (agenciados em conjunto, com a(s) história(s) do cinema), que surgem como personagens desse romance-ensaio (juntamente com alguns cineastas, como Sean Price Williams e Aki Kaurismäki), mas são também as muitas décadas vividas no cinema, dentro e fora das salas de exibição, por alguém quem nasceu junto com o auge do cinema e com ele viveu apaixonadamente. A “vida/ida” ao cinema de Ivo que, para além (e juntamente) dos muitos anos atuando como crítico, apresenta um inseparável amálgama entre vida e cinema, por exemplo, desde a belíssima cena recordada da infância da mãe sentada ante o espelho da toalete, gesto recorrentemente repetido, em especial nos filmes de Douglas Sirk, extravasado para a vida íntima. A intimidade da escrita que se guarda na bolsa, de caráter (auto)biográfico e que, contudo, está sempre permeável aos choques com o exterior, especialmente à agonia política contemporânea. Cabe aqui mencionar a evocação ao cineasta Philippe Garrel, presente não só em análise do filme Le Grand Chariot, mas também no personagem que leva seu nome, Garrel das Neves, já presente em Bebete Bezos, romance anterior de Mauricio Salles Vasconcelos. Garrel (das Neves) se torna um tipo de terapeuta experimental que em sua missão, muitas vezes, pensando, justamente, as relações entre o íntimo e político, atinge um ponto de quase morte (algo ao mesmo tempo, diferente e bem próximo aos filmes de Garrel).
São preenchidas a quente, as folhas do Livro-de-bolsa, com a potência das micro urgências que as suscitam e que, no entanto, em constante retrospecção, ao abraçarem a subversão poética (a sonoridade, o ritmo da escrita, a capacidade de expor significações e ressignificações da palavra) se opõem radicalmente ao instantâneo irrefletido, à verborragia massificada e robotizada. Tudo o que contraria o padrão literário em vigência na atualidade. (Texto das orelhas, de Vitor Guimarães Viana, graduado em Cinema pela UFSC e mestre em Literatura pela mesma universidade com a dissertação Philippe Garrel: o Sentimento Fantasma).