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Sobre "Tratado dos anjos afogados" e "Me enterrem com minha AR-15"
Página publicada em: 14/05/2008
Natan de Alencar*
Com armas de cunho estético poeta enfrenta a "nadificação dos excluídos"
Vejo em Tratado dos anjos afogados (Ed.LetraSelvagem, 2008), do poeta Marcelo Ariel, uma continuidade do livro Me enterrem com minha AR-15, que apareceu em 2007 (edição artesanal do Projeto Dulcinéia Catadora, Atibaia-SP) .
 
Em ambos, há a preocupação com temas de natureza filosófica, porém, sem a intenção de eleger idéias estruturadas, de conclusões racionalistas. Suas indagações estão permeadas de mistério. Que bom que assim seja, pois, do contrário não exalaria poesia da melhor cepa.  Neles, percebo também preocupações de natureza social, onde é impossível não enxergar “os anjos afogados”, que, a meu ver, além das crianças vitimadas pelo sistema, somos todos nós, vítimas do desenvolvimento econômico sem limites.
 
Gostaria de ressaltar, dentre os poemas de Ariel, o caleidoscópico “Cadenza dos Comandos”, que está presente em seus dois livros. Vejo na carta transcrita ali a ressonância do pensamento do poeta, expresso em quase todos os seus poemas, desde que se desconte as defesas da via das armas como resposta à opressão dos poderosos. Corrija-se: as armas de Ariel são de cunho estético e penetra angustiadamente fundo, buscando enfrentar a recusa, a nadificação dos excluídos pelo trator do capital, tipificado na capa por duas chaminés expelindo fumaça, símbolo do crime ambiental realizado em Cubatão, desde meados da década de 50, com o início da industrialização.
 
Reitere-se que Marcelo, em sua obra, preocupa-se sobremaneira com as crianças, vítimas indefesas do poder anencéfalo. Talvez se possa ver nisso um anseio de pureza, que sabe impossível, pois, como diz em determinado poema “deus é um recém-nascido com duas facas no lugar dos braços”.
 
E como disse em “Beckett-Celular”, criticando irônica e cinicamente a febre tecnológica dos novos produtos: “Vida Guerra atirou o recém-nascido do quarto andar e antes que aquele boneco do Farnese chegasse ao chão ele explodiu e de dentro do recém-nascido saíram vários celulares com MP3 e câmera digital...”.
 
Por Ariel ser um grande poeta, quase enxergamos nessas palavras uma certa profecia sádica, porém, se há sadismo ele está na cabeça inexistente do opressor político/econômico, cadenciando seu jogo cômico e bruto sobre nós.
 
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*Natan de Alencar é ator e poeta e mora em Cubatão-SP

 


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» Adelto Gonçalves

Jornalista com passagem em alguns dos maiores órgãos da Imprensa de São Paulo, professor univeresitário com doutorado pela USP (Univesidade de São Paulo), especialista em Literatura Portuguesa e Espanhola, autor de ensaios premiados, é também excelente ficcionista, como se pode comprovar neste romance "Os vira-latas da madrugada", um dos livros premiados, em 1980, no concurso de âmbito nacional promovido pela Livraria José Olympio Editora, que o lançou em 1981, e, trinta e quatro anos depois, é reeditado pela LetraSelvagem. "Adelto Gonçalves tem o dom de fazer viver suas personagens, convencendo o leitor de seu valor humano, mesmo quando suas ações, como as de Pingola e Quirino, lhe repugnem", escreveu Maria Angélica Guimarães Lopes, professora emérita da Universidade South Carolina, em resenha publicada na "Revista Iberoamericana", do Instituto Internacional de Literatura Iberoamericana, Universidade de Pittsburg, EUA, janeiro de 1985.

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